sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Queria ser feliz

Queria ser feliz.

Se não fosse possível ser feliz hoje, queria ter lembranças de um passado que não vivi.

Queria que o passado fosse fonte de saudades: saudades de boas alegrias.

Queria poder ficar hoje pensando em coisas boas nas horas vagas...

Queria lembrar das mulheres que teria tido, amadas ou comidas, como deveriam ter sido: intensamente, inquestionavelmente, irresponsavelmente, prazeirosamente, mas de algum modo saudosamente memorável.

Queria poder lembrar o quanto gozei intensamente. O quanto me dei ao prazer intensamente, sem questionamentos.

Pensar numa infância feliz, ter saudade daquelas alegrias infantis, intensas ao modo delas... Imagino que crianças felizes vivam intensamente os momentos felizes, as fases felizes... Mesmo que não sejam crianças que tenham lembranças felizes da vida em família (dos pais, dos irmãos), que sejam crianças que tenham lembranças felizes dos amigos da rua, do futebol, das brincadeiras...

Queria ter lembranças verdadeiramente boas da minha infância.

Queria que as minhas lembranças pudessem abastecer o alento de um futuro gozoso e fossem fonte de uma procura, hoje, deliciosa.

Não precisavam ser alegrias sem reparos, mas que fossem fonte de saudade.

Queria ter sido feliz...

Hoje, nas horas vagas, tento simular a possibilidade um passado imaginado, afastando o sentimento de amargura do que não foi, pensando no que poderia ter sido, para tentar um futuro que, no futuro, seja fonte de saudade.


Houston, 3 de fevereiro de 2003.

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