quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Chegamos ao ano 2000

Chegamos ao ano 2000

(Escrito para, e lido na, reunião de família que fizemos dias depois do dia 31 de dezembro)
 
Chegamos ao ano 2000. Comemorou-se isto à meia noite do dia 31 de dezembro passado. Ou deveria ter sido à 1 hora da manhã por causa do horário de verão?

Duas mil voltas completas da Terra em torno do Sol desde que Cristo nasceu. Em que momento, nosso grãozinho nave mãe completou as 2000 voltas? Há 2000 ou 2004 anos atrás? Deveríamos ter celebrado há nove dias, ou neste momento?

Rigorosamente não importa.

A vida, uma vez superado o patamar da sobrevivência material, ponto a partir do qual nada é rigorosamente necessário, se orienta através de símbolos.

Quanto à nossa sobrevivência física, não escolhemos o que temos que fazer para mantê-la, contudo, uma vez vivos, influenciamos o curso da vida conforme os símbolos que construímos e cultuamos. Quanto mais ricos os símbolos, e quanto mais fortemente compartilhados, mais rica a vida.

Chamo a todos, para que aqui, e neste momento, elevemos os nossos corações, para celebrar, para elaborar um símbolo importante: “a chegada do ano 2000”, através de outro mais importante: “a família” – “o reveillon da nossa família”.

Não o pudemos fazer no momento em que todos o fizeram, mas este momento é para mim tão forte quanto aquele em que os fogos desenhavam o céu, e eu elevei meu pensamento para a minha família, para o nosso passado, para a memória de papai, e imaginei que o desejo de todos nós era esta estarmos juntos, inclusive com ele.

Celebramos o símbolo do marco do ano 2000. O símbolo do início de uma nova era, de uma era na qual não boiamos imponderáveis em uma nave espacial, como imaginávamos. O símbolo de um ponto que foi tão distante no tempo, e que de repente chegou. Chegou tão rápido quanto a vida passa, deixando a sensação muito distante do tempo em que vivíamos sob um mesmo teto, numa família.

Buscando interpretar os tempos de agora, talvez se possa dizer que celebramos o rompimento de uma barreira simbólica no tempo, rumo a um novo tempo, no qual o ser humano surpreenderá a si próprio com o que será capaz de fazer materialmente. O que estiver na cabeça das pessoas é o que possivelmente acontecerá, aliás o século 20 provou isto ao 19. Senão tanto, celebramos ao menos termos sobrevivido ao futuro (ou ao símbolo coletivo dele).

Como o futuro é tão perto, e o passado tão distante ... é como se na escala do tempo, um metro para trás fosse maior do que um metro para frente ...

Me lembro da foto preto e branco, colada hoje na porte da minha geladeira ... magrinho, pequenino, de camisa do Botafogo (a final de contas nossa família adotou este símbolo, e eu me orgulhava disto), sandália franciscana, e a tão criticada meia branca.

Lembro-me da foto da Ana, tentando segurar aquela imensa bola de basquete, em Petrópolis ... d’aquela foto com os rostinhos do Sérgio, do Beto e do Duda, que sempre esteve no quarto de nossos pais.

Mamãe cruzou o tempo irradiando o carinho que tanto me equilibrou.

Neste momento, reunido em família, nesta confraternização, confluímos dois ícones fortíssimos: o do passado e o do futuro. Me alegro por ter esta oportunidade, por este reencontro, por este repensar. E se na noite do dia 31 felizmente pude estar com meu irmão Roberto e sua família, hoje posso estar com todos, com muita intensidade, como se hoje fosse o antes, no amplo sentido deste paradoxo.

Para terminar, é importante ser mencionado novamente, que infelizmente, sentimos a ausência do convidado de honra desta festa. Ele que sempre sonhou com esta data, que mais faria questão de nos ver reunidos, e que nos manteve, de uma forma ou de outra, unidos até então.

Pai, esteja em paz onde estiver. Nós o amamos. Feliz eternidade!

Mamãe, irmãos e sobrinhos, feliz ano 2000!


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