Quando se dá verdadeiramente
Quando se dá verdadeiramente, perde-se o controle do que foi dado. Passa a ser do outro, posto que foi dado verdadeiramente. Reside ai o medo de dar: transfere-se a propriedade para o outro.
Quando se dá de si mesmo, entrega-se a propriedade de sua própria vida, quanto ao que dela se deu. Perde-se o controle daquilo que se deu de si mesmo. Não rejeitar o descontrole é parte da essência do dar verdadeiro.
O respeito e o zelo quanto ao que foi dado depende exclusivamente de quem recebeu. O risco é parte da essência do dar verdadeiro.
Aceitar o risco...
Admitir o descontrole...
Confiar...
Conseguir acolher o prazer da entrega...
Desprender-se...
Dar pelo prazer de que o outro possua aquilo que será capaz de transformar no que a endogamia de nossa lógica não seja capaz, ou simplesmente dar pelo prazer da entrega, pelo significado maior que se queira conferir a alguém.
A vida que com alguém se partilhou, foi, a esse outro, dada. Partilhar a vida é algo que o tempo se encarrega de entregar ao outro. Entrega-se, de alguma forma, ao outro, quando menos, sua própria história.
Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2003.
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