segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O pior cego é aquele que acha que vê

Quando estamos mais distantes da possibilidade de aprender?

Eu diria que é "quando acreditamos que já sabemos" (ou quando preferimos acreditar nisto), pois não passa por nossas cabeças nos dedicarmos a aprender algo que já "sabemos"!

Só aprende, quem sabe que não sabe. Quem submete à critica, o que crê saber. Quem suporta conviver com o sentimento da falta de respostas.

Para "os grandes", creio que este conceito faz parte de seus modos de pensar.

Sócrates, aponta nesta direção com o seu: "só sei que nada sei".

Lembro, também, de um livro pequeno e embolorado, capa vermelha, de meu avô paterno, que caiu em minhas mãos: "Minha Philosophia da Industria", de Henry Ford.

Neste livro, entre outras coisas, Ford, falava que quando um de seus gerentes lhe apresentava algum aperfeiçoamento do qual o tal gerente se orgulhava, quanto mais ele se orgulhava, mais Ford se punha preocupado.

Ford temia que o apreço do gerente às suas próprias (e maravilhosas) ideias pudesse fazê-lo "cegar", e o tornasse reativo a críticas e às possibilidades de aperfeiçoamento.

Muitas vezes, preferimos a paz e o conforto das certezas, porque, do contrário, perdemos o chão. Nos sentimos vulneráveis e com uma sensação de perigo. Ou, simplesmente, porque não queremos nos complicar a vida, sendo mais fácil colocar a pedra da conclusão em cima do buraco da incerteza.

Ressalvo, que não falo somente do saber, digamos, "científico", mas qualquer saber. Aplico estas considerações a, por exemplo, ao julgamento que fazemos dos outros. A ressalva desta ressalva é que usei o termo "científico" na sua acepção mais comum, o das ciências exatas, mas, qualquer saber para ser um saber deve ser científico. Mas não quero me alongar neste aspecto...

O que torna as coisas ainda piores para nós, seres temerosos de enigmas, talvez por nos fazerem recordar o maior deles, que é o enigma da morte, é que quanto mais inflamos o balão do saber, mais aumentamos nossa superfície de contato com a ignorância.

O que eu queria apontar, é que para crescermos, temos que conseguir lidar com as frustrações do vazio da falta de respostas.

Imagino que quem ascende a altos postos em uma empresa, tem que ser de um tipo de personalidade que saiba lidar com isto. Quanto mais alto o cargo, menos respostas para tudo a pessoa tem, ao mesmo tempo, tem que saber conviver com a frustração de não conseguir resolver todos os problemas que se lhe apresentam.

Poderia falar mais, mas acho que já falei o suficiente sobre a essência destes pensamentos. Termino propondo reformar o dito para:
"O pior cego é aquele que acha que vê"
(sem, com isto, querer aliviar a barra daquele que é cego por não querer ver).


Assim que acabei de publicar este texto, encontrei no facebook a seguinte citação, lá publicada por Adriano Lima:

"Os Irmãos Karamazov”de Dotoiévsksi, trecho de o “Grande Inquisidor”.

Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde onde as certezas moram."
Obrigado, Adriano.
 

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