Vou contar o que "se passou"...
Curti muito ter sido exposto ao espanhol por ter vivido uns dois anos
e algo na Venezuela.
Um amigo das bandas de lá, que veio morar aqui, diz que: "quanto mais
aprendo o português, mais aprendo o espanhol". Confirmo que o
vice-versa se aplica.
Muitas palavras usadas no espanhol cotidiano, são também palavras do
português, mas esquecidas e não usadas. Frequentemente, fazem parte do
português, digamos, erudito.
Mas a irmandade das duas línguas caprichosamente também se revela,
escondida em palavras de uso comum, e que juramos de pés junto que não
têm o mesmo sentido que o do espanhol. Vamos a alguns exemplos.
"
Taça", a de tomar vinho, é "
copa", em espanhol, e "
tasa", em
espanhol, é "xícara".
"
Copa", em português, é uma das dependências de uma casa, onde
trabalhava a copeira. Que, pelo que soa o nome, parece (estranhamente)
que era a responsável por cuidar dos copos da casa.
Pois bem... Só que,
em ambas as línguas, "
taça" ou "
tasa", são o mesmo
que "
copa", quando falamos de campeonatos: "taça libertadores da
América" e "copa do mundo".
Nestes casos, "
mundo" não é uma casa, e quem ganha a libertadores não
leva uma
xícara!
"
Pegar" em espanhol, tanto pode significar "
bater", quanto pode ser "
colar".
Eu dizia que, em português, não se usa esta palavra com nenhum destes
sentidos. Mas, não tem "uma casa
pegada na outra"? Já não ouvimos
"ainda
pego este menino levado"? Eu só ouvi isto quando alguém tem
vontade de dar umas palmadas no garoto, e quando as casas eram
coladas umas nas outras.
Quando fui fazer exames de sangue lá, foi que eu ouvi a palavra
"
ayuno", porque eu tinha que ir em "jejum". Foi ai que entendi o
"
desayuno", onde o prefixo "des", entra para deixar claro que no café
da manhã saímos da condição de jejum. Quando entendi isto, passei a
achar "desayuno" uma palavra estranha...
Mas depois me dei conta que "quem inventou a língua da maneira que
falamos hoje", também não gostou, e trocou o nosso
desjejum, pelo cafe
da manhã!
Os ingleses seguem o pensamento espanhol, com os seus "
breakfast", porque "
fast" é jejum, e "
break" é quebrar. Que coisa, não...?!
Outra coisa estranha é que "
blanco" também signifique: meta, alvo, em
espanhol. Além de ser o nome da cor. Tanto, que o esporte é o "tiro al
blanco".
Quando ouvi "tiro al blanco" foi que me caiu a ficha... Também falamos
"tiro ao branco" em português. Só, que mudamos "
branco" por "
alvo",
que é uma outra palavra que temos para esta cor. E, não é...? Eu, sendo
botafoguense, sou
alvi-negro! Tem também o "
alvejante", que deixa as
roupas
alvas, ou, brancas.
Desvendado este mistério, ficou um gato na tuba: eu sempre achei que a
bolota do alvo era preta. Será que é porque eu nunca pratiquei o
esporte?
Vai mais?
Tem o "estou a ponto de bala". E que diabo de "
bala" é esta? A de algum
revólver pronto para atirar?
Isto, dito em espanhol seria: "estoy a punto de caramelo", e adivinhem...
"
Caramelo" em espanhol significa "
bala" (a de chupar), em português.
O "ponto de bala" é uma expressão da culinária. Refere-se a um estado
em que fica o açúcar, quando aquecido. Imagino que seja num ponto que,
com ele se, possa fazer balas (de caramelo, por
supuesto).
Tem "la leche cortada", que é o nosso "leite talhado". Talhar = cortar.
E pra fechar, eu ia dizer que eles dizem "
qué pasó?" para perguntar "o
que aconteceu?", e ia dizer também que "
passar", nunca, em português,
significa "
acontecer", mas como eu já contei o que
se passou na
Venezuela, não preciso falar mais nada.