terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Papel no chão

Consciente de minhas responsabilidades, guardei o papel amassado que carregava. Não importando o quanto eu andaria, o jogaria em uma lixeira.

Encontrando uma lixeira, lancei o papel em direção a ela. O papel bateu na lateral e caiu no chão.

Não me abaixei para pegá-lo. Eu já havia sido nobre o suficiente.

A consciência de minhas responsabilidades ficou no chão.

Desta mesma forma, também vejo o comportamento de muitos e muitos com relação à tolerância, à cordialidade, ao comprometimento, ao afeto, ao bem-querer, e a outros propósitos de nobreza de caráter.

O "pedacinho de papel" chega a ser levado com certa determinação enquanto tudo corre nos conformes, até o primeiro revés, ponto a partir do qual os propósitos são deitados ao chão.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O beijo do tempo

O Beijo do Tempo

O tempo beijou nossas faces
Com vinte longos beijos.
Nelas desenhou seus sinais.
O tempo deixou suas marcas
No corpo e na memória.
Marcas de um beijo, que não se apagam...
As do beijo do tempo.

Marcas do tempo de um beijo,
De um beijo perdido no tempo,
Esquecido...
Um beijo que o tempo apagou
E o destino redesenhou.

Rio, 19 de março de 2003

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Te quero

Te quero

Te quero mais do que mereces
Te quero mais do que precisas que te queira
Te quero por não te haver tido
Te quero por não ter tido
Te quero por tê-la querido muito
Te quero por não saber querer outra e porque quero uma mulher
Quero o que significas
Não te quero


Rio de janeiro, 10 de março de 2003

Carta cardiografada

Carta


Como quem psicografa, num dia de setembro de 2005, na impossibilidade de um certo coraçãozinho se expressar, cardiografei esta carta. Dele, para seus pais. Não sei se o meu coração guiou minha mão em real sintonia com o dele...

Vivo uma fase extremamente importante da minha vida. Equilibro-me no fio divisor de sentir a vida com fortuna ou com infortúnio. Para o lado que tombar, nesta fase, tombará meu destino, e se o infortúnio me sorrir, enfrentarei muita dificuldade para cruzar esta linha novamente, quando, e se um dia, conseguir.

De alguma forma sei disto desestruturadamente, como desestruturado estou, e nesta desestruturação natural desta fase da minha vida, sofro com a ambivalência sentimental que esta situação me impôs: meus ídolos adorados e necessários, que optaram por que eu vivesse, são os meus algozes. Fustigaram e fustigam meu coração, negando-me o que mais me importa... Se optaram por mim, a vida, porquê a maltratam?!?!

Não me peçam para que eu entenda, e muito menos que eu aceite! Esta responsabilidade não me cabe! Porque nem justo seria pedir-me isto. Não estou, e nem deveria estar, apto a isto. Não me peçam para resolver o que nem vocês foram capazes de lidar sem muito sofrimento. O sofrimento cabe a vocês, não a mim, que nada pedi.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Grades

Grades

São grandes as grades,
Grandes os homens.
Grande os espaços dos homens sem grade.

São grandes cercas, isso são.
São grandes presos, isso não.

O espaço não passa das grades.
Os homens não passam das grades.
As grades não passam de grades.

Aperte o espaço,
Aperte as grades.
O homem não pára, não é sufocado.
São grandes os espaços dos homens sem grades.

09 de maio de 1976
0 horas e 30 minutos

Então, com 17 anos de idade

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Onde mora a consciência de mim mesmo


Onde eu moro, há um cantinho meu, organizado. Meus documentos (obrigatórios), os manuais de quase tudo que comprei e ainda tenho, as ferramentas...

Antes de mudar de casa, lá, nesse cantinho, não muito organizados, em sacos onde eu sabia onde estavam, também estavam as minhas recordações.

Onde mora a consciência de mim mesmo, tem um cantinho organizado.

Este meu cantinho organizado me deu onde eu me segurar, e não ter sido levado para o caos, quando eu mudei.

Antes da mudança, eu sabia onde estavam as minhas recordações (ao menos onde estavam os sacos que as continham).

Assentada a mudança, tenho que buscar as recordações (mesmo que as mantenha fechadas em sacos).

Eu não as perdi. Estão em algum lugar em onde moro.


domingo, 1 de dezembro de 2013

O ovo escorre


Quebra a casca.
Trinca... Lasca...
Nem nasce e não morre.
O ovo escorre...

Por algum motivo, aquela imagem, tão despropositada, ficou na mente. Havia algo..., algo que de alguma forma o sentimento alcançou, e que a razão não conseguia transpor em palavras.

Havia um significado a explorar... Algo, que, se de alguma forma havia sido “dito” em sentimento, haveria que a razão colocasse em palavras.

Deixava no ar um cheiro de morte. Morte sem crime. Morte sem cadáver.

Como matar, se sequer nasce...? Uma charada, como que abrindo algum vestíbulo secreto na realidade, como uma pedra  despropositada das paredes de um castelo, que se empurra, e que abre a passagem secreta para o que jamais se suporia, não fosse por atentar a explorar o despropositado.

Um medo das mensagens silenciosas que existam nas coisas. Medo da insuspeita influência das coisas com suas mensagens subliminares, falando diretamente ao sentimento, que em algum lugar dentro de nós se instauram e se aprisionam por não conseguirem sair pelas palavras, e que, sabemos de alguma forma, estarem dentro de nós, presos pelas grades do indizível. Medo de perder a noção dos limites do terreno da loucura, em suposições.


29 de abril de 2005?