quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

E vem descendo dos céus

E vem descendo dos céus,
Lentamente, no colo da Santa,
Como retratam as imagens.
O céu muito azul,

De braços estendidos,
As mãos abertas,
Recebo a benção.

Mais uma alma desce.
De braços estendidos,
As mãos abertas,
Recebo com a emoção
Cantada por um coro de vozes.

Emoção, honra, alegria.
Vem mais uma...
Mais uma alma,
Mais um mundo,
Mais nove meses,
Nove, dez, mil meses.

De braços estendidos,
De mãos abertas,
De coração aberto,
De mãos dadas
A toda vida.

E se houver céu,
E eu se for ao céu,
Sempre estarei
De braços abertos,
As mãos estendidas.

Mais uma alma,
Mais um mundo
Vem à Terra.
Descendo no colo da Santa
Numa nuvem densa de algodão
Recebo, envolto em cobertas,
Pequeno ser.
Acolho em nosso teto,
Templo de nova vida,
Se enche de música celeste.

Um coro de anjos entoará
Suas falas ingênuas,
Seus choros de vida.

(Por ocasião do nascimento de minha filha)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Desencanto

Desencanto

Eu faço sexo como quem chora
De desalento... de desencanto...
Desta pecha me livro, se por agora
Me alheio de qualquer encontro.

Meu gozo é sangue. Volúpia fria...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Espermatorréia. Agenesia.
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia mouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando nenhum sabor na boca.

- Eu faço sexo como quem morre.

22 de maio de 2005

Para quem não conhece, este "poema" foi feito baseado no poema de Manuel Bandeira.
Segue o poema dele:

Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

O poema é um rastro

O poema é um rastro.
É a sugestão de um caminho.
As pegadas não são as do pê da letra.
Não aponta para o certo, nem para o errado.
É instigação.
Ao que foi escrito e ao inverso.
Como a loucura questiona a sanidade, como a morte questiona a vida,
como os sentimentos questionam o "eu".
O que é dito é menos importante do que o que cala.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Anti-trauma

Neste réveillon eu estive na esquina oposta, onde e quando ocorreu um tiroteio em Copacabana. Estava acompanhado de várias pessoas amigas.

Disto, o que queria comentar, é que durante horas depois, nós, que presenciamos a cena, comentávamos e comentávamos e re-comentávamos o ocorrido. E até agora, passadas mais de 24 horas, ainda o tema continua em nossas cabeças e conversas.

Um companheiro de trabalho, com quem comentei o assunto, lembrou dos soldados que voltam da guerra, e falou do stress pós-traumático.

Eu fiquei pensando que deveria existir um anti-trauma, tipo um "bem-estar pós-algo-muito-bom". Estado em que se ficasse rememorando e rememorando a felicidade advinda daquele "algo-muito-bom".

Não demorou muito para que eu me desse conta do nome disto. O nome é "paixão".