sexta-feira, 12 de junho de 2015

Por ser homem

Por ser homem

Eu, por ser homem, é que me lanço nos mistérios do seu agrado, do seu prazer, frente às incertezas de suas pernas abertas e do seu corpo nu.

A tentativa requer, inexorável, a certeza do meu pênis rijo. O direito do ensaio, de mim, requer a certeza do aplauso, cuja dúvida toda possibilidade desfaz.

As alternativas se esvaem frente ao que eu mesmo pensarei de mim, quando, se mesmo placidamente admissível fosse, não sustentasse o falo duro, e duro o suficiente.

A ignorância frente aos mistérios próprios de cada ser, não me exime, e talvez nem me escuse, da responsabilidade do ritmo, da intensidade, da sequência dos atos.

No conforto passivo, que não requer mais do que um pouco de saliva em caso de não estar lubrificada, passo a ser eu, para você também, um pênis a um corpo pregado. Não requer carícias ao corpo ao qual o pênis se prega. Não requer uma fala que estimule. Não cabe um pedido (pode ter efeito contrário!!!). Não. Somente basta-lhe o grande mérito das pernas abertas e do seu corpo nu, em consentimento conversível em mostra de desejo.

Na dúvida, que toda responsabilidade traz, bem sucedo quando opto por interpretar-lhe desejo, e não consentimento, ainda que seja através da ótica solitária do meu próprio desejo.

E, se quebrando a lógica matemática da incondicionalidade masculina, a mim qualquer dificuldade se interpõe, isenta do ocorrido, lhe cabe ignorar gentilmente, para que o curso natural dos papéis estabelecidos se retome mais adiante.

Eu como, e você é servida...

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2005

2 comentários:

  1. Um belo retrato, ou melhor um belo curta, de um momento sublime da relação humana, frente a acertos e desacertos e a sua perpetuação.

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    1. A essência do texto é um protesto à passividade feminina.

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